Seis homens e um maquinário usado para extrair ouro são suficientes para provocar um estrago praticamente irreversível na vegetação, poluir cursos d’água e causar doenças à comunidade do entorno. Esses são os riscos apontados pelo ambientalista e professor do Instituto Federal de Minas Gerais (IFMG), Daniel Neri, sobre o esquema de garimpo ilegal descoberto no distrito de Furquim, em Mariana, na região central do Estado, na terça-feira (17 de dezembro de 2024). O pesquisador alerta que os garimpeiros ilegais costumam ser forasteiros, que impõem uma exploração intensa dos minerais e abandonam a cidade em seguida, deixando para trás o rastro de destruição.
Em Furquim, a Polícia Ambiental identificou cerca de 1.000 m² de vegetação devastada pelo garimpo. A atividade resultou na abertura de um grande buraco em meio ao verde de uma Área de Preservação Permanente (APP) — espaços importantes para proteger rios e garantir a conservação da natureza, conforme o Instituto Estadual de Florestas (IEF).
“O garimpeiro ilegal é forasteiro, vindo de São Paulo, da Bahia, e utiliza maquinários grandes, como a draga, que escava e aspira os minerais. Eles abrem estradas para transportar as máquinas, desmatam e poluem as águas com muita facilidade. É complicado, porque na região Central está a bacia do Rio Doce, já degradada e com alto teor de ouro”, pondera o pesquisador Neri.
Segundo ele, a principal ameaça ao meio ambiente e à comunidade, quando um esquema ilegal de garimpo se instala, é a poluição provocada pelo uso excessivo de mercúrio. O elemento químico é utilizado para separar o ouro dos demais sedimentos.
“O processo de separação é todo feito no local, sem nenhum tipo de laboratório de apoio. O mercúrio é altamente poluente e é descartado nas águas do rio. Ou seja, mata a população de peixes, contamina as plantas ao ser absorvido, adoece a população que consome os peixes e utiliza a terra contaminada, além de prejudicar os próprios trabalhadores que inalam o elemento. É um desastre que afeta toda a cadeia alimentar”, acrescenta o professor.
A cidade de Mariana é marcada por mais de 300 anos de exploração de ouro e outros minerais, seja por empresas regulamentadas ou garimpeiros ilegais. Há, ainda, a prática do artesanato pelos moradores, mas esta última tem impacto ambiental quase nulo. A recuperação dos danos na área de preservação de Furquim, de acordo com Daniel Neri, se ocorrer, não será percebida nas próximas décadas.
Segundo o órgão, os autos provenientes das fiscalizações são encaminhados ao Ministério Público de Minas Gerais (MPMG), responsável por conduzir processos cíveis para reparação dos danos causados.