Antropologia digital para sintetizar este artigo? Ou teoria da conspiração? Talvez um pouco dos dois. Venho como comunicólogo observando os componentes, comportamentos e fenômenos de usuários da internet, especialmente os nativos conectados, essa geração que vive imersa nas redes sociais de maior apelo contemporâneo, movida pelo engajamento.
O que se sabe é que o comportamento digital mudou e muito. Desde a pandemia de Covid-19, quando fomos empurrados para dentro de casa e para dentro das telas, aprendemos a consumir de tudo: informação, entretenimento e desinformação, tudo misturado no mesmo feed.
Nos tornamos novos nativos digitais, condicionados a uma vida em que tudo é conectado. A tecnologia se infiltrou em nossas rotinas de maneira quase invisível, do banco digital ao transporte por aplicativo, da compra de ingressos à comida por delivery, da identidade virtual à consulta médica online. Hoje, a internet é o eixo de todas as relações humanas e de consumo.
‘O jogo é digital, mas as consequências são humanas”
As redes sociais são, de certo modo, uma extensão de quem somos individualmente. Cada usuário carrega um repertório próprio, origem, cultura, crenças e experiências e tudo isso se traduz no comportamento digital. A ilusão é acreditar que estamos apenas “navegando”, quando na verdade estamos sendo navegados.
A internet se vende como um território democrático, um campo aberto para o acesso à informação e ao conhecimento. Bonito na teoria. Mas basta um scroll para perceber que, por trás da promessa de conexão e entretenimento, há um sistema de controle invisível, refinado e matemático.
O algoritmo, essa engrenagem silenciosa, dita o ritmo, o gosto, o tempo e até o humor das pessoas. Cada rede social tem sua própria linguagem, público e objetivo. Uns espaços dialogam melhor com a Geração Z, outros com um público mais maduro. Imagens, textos e vídeos compõem o código básico desse universo. E para sobreviver nele é preciso o mínimo de letramento digital.
“A nova religião do engajamento.”
O problema é que o jogo virou e o algoritmo venceu.
A regra agora é retenção: prender o olhar, capturar o tempo e monopolizar a atenção. Criadores e consumidores colidem num ciclo exaustivo. Eu crio, você consome. E todos se tornam, de alguma forma, reféns.
Hoje, qualquer um pode ser criador de conteúdo: da rotina fitness ao look do dia, da maquiagem ao pet, do tutorial doméstico ao relacionamento afetivo que engaja.
“Conectados demais para perceber o controle.”
O colapso começou e é nítido.
A pressão estética, a busca pela vida perfeita, a competição entre criadores, a guerra das plataformas de streaming, a novela adaptada para o celular, a exposição da intimidade como moeda, empresas que colocam funcionários para performar “autenticidade” nas redes, transmissões ao vivo intermináveis, uso desenfreado de inteligência artificial, ataques virtuais e fake news. Ufa. Tudo isso é só a ponta do iceberg digital que afunda, lentamente, nossa capacidade crítica.
“Entre o like e o loop: o vício invisível das redes sociais.”
A internet mudou o jogo da vida real e estamos todos dentro dele, criando ou consumindo.
Mas fica a pergunta: quem, afinal, está controlando o jogo?
Nota: Este texto reflete exclusivamente a opinião do autor e não representa necessariamente a posição editorial do portal Agito Mais.
COLUNISTA: Lourenzo
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