Em São Gonçalo do Bação, distrito de Itabirito, existe um relógio que há muitos anos já vem marcando a história do povo itabiritense. Sim, existe! Não sabia?
Esse relógio não se parece em nada com o relógio moderno instalado na praça da Estação de Itabirito para contar a chegada do centenário da cidade.
Trata-se do relógio de madeira que compõe o sino da Igreja de São Gonçalo do Bação, construído por José Vitor Gomes, ilustre filho da terra! Este é um dos poucos relógios do tipo no Brasil e está precisando de cuidados!
José Vitor, nascido no ano de 1894, era um gênio que se desdobrava em atividades como pedreiro, escultor, pintor, músico, escritor, inventor, entre outras. Embora existam relatos de sua baixa escolaridade, José Vitor atraía diversas personalidades e políticos interessados em observar e aprender com a sua genialidade.
O colunista do Jornal A Gazeta, José Guimarães da Silva (Zequinha), em 1976, dissertou sobre a imponência do "relógio de pau":
"De cordas, de pedras, de latas, que marcava as horas na igreja local. Por muitos foi admirado, comentado, discutido, criticado. Mas o fato é que o relógio lá estava, no alto da torre, alheio aos comentários que eram dirigidos. A marcar os minutos e as horas, ininterruptamente, dia e noite, alheio a tudo, em seu mister de servir ao lugarejo. E como servia!"
Itabirito, polo minerador, mas antes, polo de riquezas naturais e culturais, é um convite irresistível à todos. Todos precisam conhecer essa riqueza! Precisamos ter ainda o que preservar e mostrar. São Gonçalo do Bação tem o mesmo potencial turístico de lugares vizinhos como Lavras Novas, por exemplo. Mas Itabirito parece caminhar para que histórias e patrimônios, como esse relógio da torre da igreja, sejam esquecidos em detrimento de ações exploratórias de seu território.
No último dia 29 de abril, a maioria dos conselheiros do CONPATRI (Conselho Consultivo e Deliberativo do Patrimônio Cultural e Natural de Itabirito), votou a favor da instalação de uma empresa mineradora no distrito, o que causou grande indignação à comunidade, além de trazer à tona a incerteza sobre as decisões acerca da preservação ambiental e histórica dessa joia da região dos Inconfidentes, que agora pode estar ameaçada.
Existem poucos exemplares de relógios de madeira como o do Bação no Brasil. Alguns historiadores pesquisam a possível relação entre a técnica de José Vitor com os relógios feitos no nordeste pela escola de ofícios comandada pelo Padre Cícero, que visava acabar com a dependência da importação de relógios e outros bens de outros países.
Os relógios estão todos a contar a passagem dos dias. Uns fazem contagem regressiva, outros contagem crescente. Cada qual tem a sua intenção. Mas não podemos deixar a pressa de uma evolução ilusória e finita se sobrepor a contagem de tantas histórias que compõem a memória coletiva do itabiritense.
O tempo realmente não para. O tempo, esse conceito relativo, é implacável e sempre revela suas consequências.
José Vitor Gomes faleceu no ano de 1969 e o prefeito da época, José Bastos Bittencourt, prestou-lhe justa homenagem denominando a escola de Teixeiras, localidade próxima à São Gonçalo do Bação, de "Escola Municipal José Vitor Gomes".
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